por Isabela Larangeira
Vertigem é a emoção que mais vibra em Clareou – Conversa pra Boi Leão dormir, que traz a invenção já no título e agarra o leitor com a prosa de um homem que arregala os olhos para os sonhos e redesenha a vida com traços de doçura, criatividade, encantamento e desvario. Todo esse universo especial entra por nossas retinas através das fotos do autor que ilustram as páginas. Exímio contador de casos, Sérgio Siqueira consegue manter, na escrita, o mesmo ritmo e humor de suas inacreditáveis e deliciosas histórias, muitas vividas no Vale do Capão – seu refúgio mágico.
Os dedos correm nas páginas alinhavadas com assombrações – ou livusias –, espécies de extraterrestres, árvores que se comunicam, matadores, entrevistas e curiosidades da era hippie dos anos 70. Lembranças impagáveis, como seus passeios por cemitérios, onde chegou a depositar livros sobre sepulturas – para doar aos que visitam seus mortos – ou a viagem aditivada de um amigo que deixou de falar com a sogra depois que, num surto de doideira, lançou ao teto colheradas de seu doce de abóbora, “receita secreta da família”.
O melhor de tudo, no entanto, é perceber a sensibilidade de um adulto que ainda tem o dom lúdico de ver alma em bonecos, como o coelho de pano que comprou: “Você sacava que o bicho tinha um parafuso a menos”.
Clareou é assim, alumbrado.
Texto de abertura do livro escrito por Isabela Larangeira