Entrevistas realizadas pela jornalista Nilma Gonçalves
Clique no link a seguir e leia na íntegra as entrevistas com:
1. Thiago Siqueira
2. Duda Oliva.
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Entrevista com Thiago Siqueira
Você é um ativista ambiental. Como e quando o seu interesse pela preservação do meio ambiente teve início? Você se lembra?
Sempre tive a natureza como referência. Desde criança nascida em Itapuã e amante do Abaeté. Quando adolescente, o surf me conectou profundamente ao mar, e quando conheci a Chapada Diamantina, entendi cedo o que queria fazer da minha vida. Hoje sou menos ativista do que gostaria, já sofri na pele e na alma as consequências do ambientalismo na Bahia e em Salvador do final da década de 1990 até o início dos anos 2000 – e não foi nada fácil. Comecei a atuar na área ambiental aos 19 anos, em 1999, há 27 anos, junto com amigos do surf. E, juntos, fundamos o Movimento Joguelimpo com Nossas Praias, que deu origem à ONG – Organização Socioambientalista Joguelimpo, que marcou a época em Itapuã, em Salvador e no litoral baiano.
Fale sobre a criação do movimento ‘Jogue Limpo com nossas Praias’: quando foi e porque decidiu criar esse grupo; era uma ONG? um coletivo?
A Joguelimpo começou como um movimento dos surfistas de Itapuã – André Papi, Vinicius Rodrigues, Rodrigo Alvares, Carlos Leite Lopes, Paulo Almeida, Leandro Amaral, eu e mais de uma dezena de associados voluntários e efetivos. Criamos o movimento de limpeza de praias porque, desde 1997, como surfistas e amantes das praias de Itapuã, percebemos o crescimento desordenado da cidade de Salvador. Itapuã, Stella Maris, Praia do Flamengo deixavam de ser territórios de veraneio para virar moradia e expansão da cidade. Tinha muitas obras, reformas de casa de veraneio que jogavam os entulhos na praia. Era muito comum. Ainda tinham os antigos barraqueiros das extintas barracas de praia da nossa orla que precisavam de um trabalho voltado para conscientização ambiental nas operações dos seus serviços na praia. Daí a necessidade do Movimento Joguelimpo com Nossas Praias, que influenciou gerações e contribuiu muito com a conscientização ambiental entre 1999 e 2013. Com o sucesso desse projeto, sentimos a necessidade de institucionalizarmos essa experiência e aí fundamos a ONG JogueLimpo para uma atuação profissional na área socioambiental.
Como foi essa experiência?
Chegamos a atuar em trinta municípios baianos com trabalhos comunitários, formação de Fóruns de Agenda 21 Locais, acompanhamento de políticas públicas, educação ambiental e ações ativistas relacionadas ao meio ambiente. O projeto Joguelimpo com Nossas Praias, que foi o meu primeiro contato com a área ambiental, foi eternizado no meu primeiro livro, Mistério no Mar de Itapuã. Foram 14 edições do projeto, com participação de mais de 9 mil voluntários e mais de 41 toneladas de lixo retiradas dos nossos ecossistemas costeiros em Itapuã, Salvador e outros trechos de praia do baixo sul e do sul da Bahia. Contribuímos com a formação ambiental de centenas de professores, mais de 3 mil alunos das escolas de Salvador e do litoral baiano, além de trabalhos comunitários em mais de 60 comunidades baianas. Foi uma experiência que moldou a minha identidade profissional e influencia até hoje a minha carreira.

Como é estrear na literatura com um tema tão urgente?
Olha, é uma tremenda responsabilidade, mas que eu já carrego desde sempre. Confesso que ainda sinto frio na barriga e tô me acostumando ainda em me apresentar como escritor, rs. Atuei e atuo em muitas frentes, em muitas dimensões da sustentabilidade. Entendo a sustentabilidade como um campo multidimensional, e sou guiado pelos conceitos da Ecologia Profunda e da Teoria Sistêmica. Trabalho na educação, no ambientalismo, nos projetos e nas consultorias ambientais, na recuperação de áreas degradadas, na dimensão cultural da sustentabilidade, com pesquisa com populações afetadas pelo desenvolvimento, e sempre quis colaborar também na dimensão literária. Nesse sentido, o lançamento do meu livro é um sonho realizado, porque eterniza os primórdios da minha história com o ambientalismo, honra a trajetória do Movimento Joguelimpo com Nossas Praias e potencializa minha contribuição para a questão ambiental sem precedentes. Acredito muito no poder da literatura. O livro tem magia, vida própria e fica eterno. Vida longa ao Mistério no Mar de Itapuã.
Como se deu a parceria com o ilustrador Duda Oliva?
O Duda é um artista genial, um achado da editora Solisluna. Ele se destacou no concurso de ilustrações promovido pela Solisluna para celebrar os 30 anos da editora e foi trazido para o nosso projeto pela qualidade e identidade das suas pinturas. Tenho um orgulho danado do trabalho realizado pelo Duda. Todas as páginas são pintadas à mão, numa técnica dificílima de pastel em óleo, muito esmero, cuidado e manualidade. E o resultado é a representação de Itapuã no nível que Itapuã merece. Uma tremenda responsabilidade para ele e para todos nós, uma vez que Itapuã é uma marca internacional. Foi representada historicamente nas artes visuais e na música por gênios. E, certamente, esse foi um desafio pra gente (eu, Duda e a equipe da Solisluna), e acho que podemos dizer que fizemos um livro que honra toda a riqueza natural, cultural, histórica e imagética de Itapuã. Tenho usado como slogan para divulgação do livro a fala clássica de Tolstoi: “quem canta sua aldeia se conecta com o mundo”. Precisamos explorar essa ideia para internacionalizar o livro, para dar escala ao Mistério no Mar de Itapuã, afinal, queremos que esse mistério navegue por todos os mares, rios e águas desse mundão.
Como você chegou até a Solisluna? Já conhecia o trabalho da editora?
Uma grande sincronicidade. O meu livro, que estava em produção na pandemia, chegou até Valéria da Solisluna, que logo abrigou a ideia e me acolheu lindamente. Minhas parceiras e parceiros das Ganhadeiras de Itapuã apresentaram a Valéria a ideia do meu livro, pois a Solisluna criou o museu digital das Ganhadeiras (Museu Virtual Casa de Ganho, um projeto audiovisual, imersivo, fabuloso). E, ao mesmo tempo, a escritora Emília Nuñez, gigante e muito minha amiga, apresentou o projeto do meu livro para Valéria. Emília contribuiu muito no início do projeto do livro e continua ajudando muito. Tenho muita admiração pelo trabalho dela, que já ganhou um prêmio Jabuti e tenho muito orgulho de ter essa galera incrível que acreditou no projeto do livro como amigos.
VIVA O MISTÉRIO NO MAR DE ITAPUÃ!
POIS, QUEM CANTA SUA ALDEIA SE CONECTA COM O MUNDO!

Entrevista com Duda Oliva
Antes de tudo: que trabalho incrível o que você fez no livro Mistério no Mar de Itapuã! Como foi essa experiência para você?
Muito obrigado! Tem sido muito especial. Foi um desafio falar de um evento tão triste, mas ao mesmo tempo enaltecendo o povo de Itapuã e a necessidade por ações de maior esperança ambiental. Fico feliz que o livro tenha te tocado!
Qual a técnica usada para o livro e o que você costuma utilizar em seu trabalho no geral?
Para este projeto trabalhei com o Pastel Seco, uma técnica tradicional de pintura bastante popular entre os impressionistas e meu modo predileto de criar imagens: gosto como o giz permite criar tanto áreas definidas quanto mais subjetivas, permitindo que as pessoas vejam os traços e texturas do material.
Qual a sua relação com o mar? E com a natureza?
Sempre fui uma criança muito ligada a tudo que envolvesse mato e bicho: coletava pequenos insetos no quintal, subia na goiabeira de casa pra ver do alto e me perdia em trilhas de saguis do parque. Nos fins de ano, costumava viajar com minhas tias para a região carioca dos Lagos e passava a tarde fitando o horizonte que só se enxerga da areia do mar. Hoje, busco trazer essas experiências e sentimentos para o meu trabalho, inspirado em temáticas naturais, climáticas e de justiça ambiental, além de participar de atos e ações voluntárias de proteção à natureza. Hoje, quero semear livros, narrativas e poesias que protejam, inspirem e enalteçam uma relação menos apartada entre nós e os demais elementos e seres que compõem nossa experiência de mundo. Mistério no Mar é uma dessas sementes.
Conhece Salvador e o mar de Itapuã?
O lançamento, em dezembro, será meu primeiro contato com areias e águas baianas! Estou ansioso para remediar essa falha de caráter, (risos).
Você foi um dos selecionados do concurso pelos 30 anos da Solisluna. Esse é o seu primeiro livro pela editora. Fale um pouco sobre essa parceria.
Eu já conhecia e admirava o trabalho da Solisluna há alguns anos, e ser selecionado para o catálogo permitiu que construíssemos um laço bonito de troca e admiração. Durante todo o processo de trabalho, senti muito afeto e compreensão por parte da editora e sou muito grato pelo convite e por poder fortalecer com meu trabalho as mensagens, pessoas e movimentos que inspiram nosso livro.
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